segunda-feira, 10 de maio de 2010

Vezeira

A vezeira era entregue a uma pessoa que se disponibilizava ser o vezeireiro do gado na serra do Gerês, nas épocas de pastagens com pertença centenárias aos lugares das freguesias inseridas e circundantes.
O Vezeireiro era pago por esses serviços, com géneros alimentares e outro, como carne, milho, vinho, etc., que era contabilizado por cabeça de gado a cada lavrador das aldeias. Agora as populações uniram-se e estão a tentar seguir a tradição antiga como limpar os trilhos do pastor e levantar as “Mariolas” que servem de guias para os pastores e dono do gado em tempo de nevoeiro na serra. Além de manter os costumes centenários também serve como objectivo para transmitir aos mais novos, os usos e costumes antigos e incentivar toda a população em geral para a protecção dos animais e seu habitat, e protecção da natureza.

Relato dos últimos “vezeireiros”

Os últimos pastores de vezeira foram da Freguesia de Ferral, chamavam-se “VERAS “, dizem-nos os filhos que o pai os levava com ele para a serra, guardar o gado com 9 e 10 anos e a escola ficava em Ferral para as outras crianças.
FM - Em que época é que subia a vezeira?
O VEZEIREIRO - Nos pegávamos na vezeira no dia 1 de Abril, no carvalho do sinal, até ao meio dia, a partir desse dia teriam que nos a levar ao curral ou “malhada” a onde estivesse-mos .
FM - Quem arranjava as cabanas?
O VEZEIREIRO - As cabanas e os trilhos eram arranjados pelo povo, e nos depois só cortávamos fenos e fetos, para fazer a cama, botávamos uma manta velha por baixo e as outras por cima, e dormíamos metidos no meio sempre vestidos para não ter frio.
FM- Onde e como faziam o comer?
O VEZEIREIRO -Quando subíamos com a vezeira trazíamos já de comer para 15 dias e um pote, que era pago pelas aldeias e o resto dos utensílios par cozinhar. Mas havia muitas alturas que o comer era pouco e tinha-mos que o governar até que a minha mãe ou os meus irmãos nos viessem abastecer era uma vida de escravos.
FM - Como era feita a paga por guardar o gado?
O VEZEIREIRO - A paga era estipulada em géneros alimentares que o lavrador tinha ou que a terra dava, por cada cabeça de gado que guardávamos, era milho, carne de porco, vinho, cebolas e era a minha mãe ou os meus irmãos que iam levantar a paga pelas portas dos agricultores.
FM - Em que zona da serra gostavam mais de estar e para que juntavam o gado à noite.
O VEZEIREIRO - O meu pai gostava da cabana das negras, mas eu gostava da cabana de lama longa, pelo facto de estaremos perto das Minas dos Carris, nos juntávamos o gado sempre a noite no curral a onde estivesse-mos, porque estava mais controlado e assim ficava estrumado, para depois um lavrador ou o dono do curral semear de centeio.
FM - Tem saudades da vida de Vezeireiro, e gostava de lá voltar?
O VEZEIREIRO – Sim, gostava de lá voltar, só para matar saudades no fundo no fundo tenho a serra traçada no meu coração, mas não nas condições de antigamente, porque o vezeireiro era o escravo dos lavradores.
FM - Porque é que o seu pai ia de vezeireiro e os levava assim tão pequenos.
O VEZEIREIRO - Éramos pobres e o meu pai eram obrigados fazer esse tipo de trabalho para não nos deixar passar fome, porque éramos muitos irmãos .
FM - Tem algumas historias passadas na serra, que nos queira contar.
O VEZEIREIRO - Tenho algumas.
Um dia acabou o vinho e o meu pai como gostava de ter sempre vinho na serra, mandou-nos a mim e o meu irmão a aldeia de Azevedo, buscar vinho numa cabaça que levava 5L, no regresso a serra e com 4 horas de caminho, ao passar o corgo do curral de matança, cai e a cabaça ficou em bocados, nem vinho nem cabaça, o meu pai de zangado começou a discutir e deixo-nos os dois na serra e foi a cabril buscar o vinho, mas até teve sorte que quando regressou a noite ficou com mais 3 litros vinho e uma broa de pão milho e um naco de carne que “ti” Barreira de Vila Nova nos lá deixou, nesse dia passou logo o “mono”, fez uma festa aos três litros que nem um “cigano a um burro”.
Noutra altura o meu pai pôs as batatas e feijões no pote para fazermos o caldo, e disse ao meu irmão, olha pelo pote que eu vou ao fundo da lama tocar o gado para metermos ao curral, pusemo-nos a brincar e esquecemo-nos do pote, quando o Velho chegou só encontrou uma pasta de batatas já tudo torrado, só tivemos tempo de fugir um para cada lado, naquela noite dormimos sem frio, e sem fome, com o corpo bem quente.

APOIOS
Junta de Freguesia de Ferral
Município de Montalegre
Parque Nacional Peneda Gerês
Governo Civil Vila Real
Protecção Civil Vila Real
Bombeiros Voluntários de Salto
Ecomuseu de Barroso

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